As frases que ouvimos quando crianças e que podem moldar nossa autoestima quando adultos

Muitas pessoas, ao relembrarem a infância, lembram-se de frases que ouviram de seus pais, parentes ou cuidadores. O que para alguns pode ter sido apenas um comentário passageiro pode, na verdade, ter deixado marcas profundas em sua autoestima e saúde mental. É o que afirma o Instituto Americano de Treinamento e Pesquisa (IAFI), uma escola de coaching e programação neurolinguística (PNL) com 17 anos de experiência e mais de 15.000 formandos.
Segundo uma análise desta instituição, as palavras que recebemos na infância têm um impacto direto em nossas crenças e na forma como interpretamos o mundo. As crianças, estando em fase de formação de identidade, são especialmente sensíveis às mensagens que recebem de figuras de autoridade. Daí a importância de refletir sobre o que dizemos e como um comentário aparentemente inofensivo pode se tornar uma ferida emocional difícil de curar.

Comentários sobre a aparência ou comparações prejudicam a confiança das crianças. Foto: iStock
A IAFI enfatiza que algumas expressões, embora comuns na criação dos filhos, podem ser prejudiciais se repetidas com frequência. "Você é burro", por exemplo, pode fazer com que a criança duvide de sua inteligência e desenvolva insegurança quanto à sua capacidade de aprender. "Você não faz nada certo" mina a autoconfiança e fomenta um sentimento permanente de inadequação.
Frases como "Você é um fracasso" ou "Você nunca chegará a lugar nenhum na vida assim" não só afetam a motivação, mas também criam uma percepção de inutilidade que pode acompanhar a criança até a idade adulta. Em alguns casos, essas palavras podem se tornar uma profecia autorrealizável: a pessoa não se esforça para crescer porque internalizou a ideia de que não vale a pena tentar.
Outro grupo de frases prejudiciais está relacionado a comparações e julgamentos sobre a aparência física. Dizer a uma criança: "Você nunca será tão bom quanto seu irmão/sua mãe/seu pai" pode incutir uma sensação de não ser suficiente e gerar rivalidade ou ressentimento. As comparações, longe de motivar, podem abrir caminho para frustração e sentimentos de inadequação.
O comentário "Você está gordo", por outro lado, pode ser o início de uma relação conflituosa com o próprio corpo, com repercussões na autoestima e, em alguns casos, na saúde mental. Essas mensagens alimentam a insegurança e podem levar ao isolamento ou até mesmo a transtornos alimentares.

A infância é a fase em que cada palavra constrói ou enfraquece a autoestima. Foto: iStock/EL TIEMPO
Da mesma forma, expressões como "Você é muito lento para entender" ou "Você não merece tanto amor" são exemplos de mensagens que, de acordo com a análise, podem afetar a percepção de autoestima e a confiança na formação de vínculos emocionais no futuro. Em outras palavras, a infância se torna o terreno fértil para as sementes da insegurança ou, inversamente, da autoconfiança.
A inevitabilidade dos erros O relatório da IAFI também esclarece que esse tipo de frase nem sempre pode ser completamente evitado. "É quase impossível para nós evitá-las", observa. Fatores como fadiga, estresse, idade da criança ou comportamento desafiador podem levar os pais a proferirem palavras das quais se arrependerão mais tarde.
Não se trata de culpar os cuidadores, mas sim de promover a conscientização. A análise nos convida a identificar quais dessas frases aparecem com mais frequência em nossos relacionamentos com nossos filhos e transformá-las em mensagens construtivas. Um comentário negativo pode ser corrigido, mas repeti-lo sistematicamente instila crenças limitantes na mente da criança.
O estudo também enfatiza que não são apenas as frases que moldam a vida das crianças, mas também seus comportamentos. Um ambiente onde a violência está presente, mesmo quando silenciosa, tem um impacto mais profundo do que quaisquer palavras. "Ações e comportamentos são gravados de forma mais profunda porque são captados pela visão, não pela audição", conclui a análise.

Além das palavras, o comportamento violento em casa deixa marcas mais profundas. Foto: iStock
Isso significa que um ambiente familiar hostil pode deixar impressões mais fortes do que mensagens verbais. As crianças não apenas ouvem; elas também observam e interpretam o que acontece ao seu redor. Portanto, o exemplo dado pelos adultos é crucial para o desenvolvimento emocional das crianças pequenas.
O desafio para mães, pais e cuidadores é equilibrar disciplina com cuidado emocional. Ter compaixão pelos próprios erros é tão importante quanto evitar repetir padrões prejudiciais. Em última análise, trata-se de compreender que a infância é uma fase em que cada palavra e cada gesto constrói — ou enfraquece — a base da autoestima.
Jornalista de Meio Ambiente e Saúde
eltiempo