Acemi questiona governo por fechar comitês técnicos da UPC sem encontrar solução: "Não é questão de contabilidade, é tragédia humana".

A última rodada de discussões técnicas sobre a Unidade de Pagamento por Capitação (UPC), ordenada pelo Tribunal Constitucional, foi concluída sem qualquer acordo entre o governo e os diversos setores da saúde. A Acemi, associação que representa os EPS contributivos, alertou que o encerramento do debate deixa sem resposta um déficit que já ultrapassa US$ 26 trilhões de pesos e ameaça o atendimento de milhões de pacientes. Por sua vez, o governo indicou que foram apresentadas as opiniões de todos os atores do setor, vindos de diferentes regiões do país para participar das reuniões.
Segundo a Acemi, o Ministério da Saúde e Proteção Social argumentou que ajustes retroativos ao UPC não são possíveis porque, segundo sua posição, os cálculos de anos anteriores "foram feitos com as melhores informações disponíveis" e corrigi-los "recompensaria a ineficiência e a má gestão". Além disso, questionou a confiabilidade das demonstrações financeiras do EPS, chegando a afirmar que elas "teriam induzido o Tribunal Constitucional a erro".
Acemi respondeu duramente: "O Tribunal ordenou um exercício técnico e transparente, não uma simulação política. É inaceitável que o Ministério tenha reduzido as ordens do Supremo Tribunal Federal a meros pareceres, negando acesso a bancos de dados e bloqueando o debate sério e verificável."

Comitês técnicos da UPC no Ministério da Saúde. Foto: Mauricio Moreno
De acordo com a análise técnica apresentada pela Acemi, o sistema está vivenciando uma deterioração na relação entre gastos e recursos recebidos. "Os próprios indicadores oficiais mostram que para cada 100 pesos reconhecidos pela UPC, 109 pesos são gastos em saúde", observou o sindicato, o que se traduz em um déficit acumulado entre 26,3 e 33,4 bilhões de dólares no período de 2021 a 2024.
O anexo técnico enviado pela Acemi detalhou que US$ 13,7 bilhões em gastos com saúde foram omitidos naqueles anos devido a deficiências nos relatórios; que o Ministério não aplicou metodologia atuarial para calcular a frequência de uso do serviço após a pandemia; e que subestimou a inflação, o que teria custado ao sistema US$ 10,1 bilhões adicionais.
Também foi revelado que o custo real das novas tecnologias incluídas no Plano de Benefícios de Saúde (PBS) foi de US$ 888 bilhões, bem acima da estimativa oficial de US$ 388 bilhões, gerando um déficit adicional de meio trilhão de pesos.

Ana María Vesga, presidente da Acemi. Foto de : Acemi
Do Poder Executivo, o Vice-Ministro da Proteção Social, Luis Alberto Martínez, explicou que as mesas-redondas foram realizadas em diversas regiões do país com a participação de organizações comunitárias, representantes de EPSs e atores do sistema de saúde indígena. "Concluímos as mesas-redondas ordenadas pelo Tribunal nas diversas decisões (...) com a preparação para garantir a estabilidade ao longo do tempo e, claro, com a participação de EPSs e pessoas conscientes de todo o país; EPSs indígenas também participaram", afirmou.
O governante enfatizou que este exercício responde à obrigação constitucional de abrir espaços para um diálogo amplo, onde convirjam diferentes pontos de vista e experiências. "A Constituição teve que regular a forma de diálogo, a forma de negociação, a garantia dos direitos que tínhamos anteriormente, e com eles encontramos um terreno comum, onde cada parte utiliza suas experiências e conhecimento técnico", observou.
Martínez acrescentou que o Ministério é responsável por arrecadar as contribuições obtidas e submetê-las ao Tribunal Constitucional como subsídio para novas disposições. Entre os temas abordados, destacou a necessidade de garantir estabilidade na participação das EPS, fortalecer os programas de saúde indígena e comunitária e buscar equilíbrio na alocação de recursos. "Todos os subsídios discutidos foram revisados e, também, graças ao exercício da solidariedade econômica, com os direitos econômicos que todos nós desfrutamos aqui, garantir a igualdade de recursos sociais", afirmou.
Por fim, ele enfatizou que os resultados das mesas redondas “se tornam uma ferramenta para orientar regulamentações que busquem equilibrar a participação dos diferentes atores do sistema, sob os princípios da equidade e da universalidade”.
Pacientes colombianos: “Uma UTI subfinanciada mata pacientes” Por sua vez, a Pacientes Colômbia, organização que reúne mais de 200 associações de pacientes em todo o país e que participou das mesas redondas como especialista voluntária do Tribunal Constitucional, também expressou sua insatisfação com os resultados. "As mesas redondas da UPC não funcionaram; o Ministério da Saúde ignora as decisões do Tribunal e deixa 52 milhões de colombianos condenados com recursos insuficientes", alertou a organização em um comunicado.
Denis Silva, porta-voz do movimento, declarou: “Sentimo-nos usados pelo Ministério da Saúde neste processo, que ordenou o cumprimento das decisões do Tribunal Constitucional para garantir uma UPC justa. O Ministério conclui unilateralmente que os recursos são suficientes, mas a maioria dos técnicos presentes demonstra que há um défice próximo de dois pontos percentuais do PIB. Uma UPC subfinanciada mata pacientes.”
A rede de pacientes também criticou a rejeição de decisões judiciais e a falta de informações suficientes para justificar as decisões do governo. "O país perdeu uma oportunidade histórica de sair da crise do sistema de saúde, e o direito fundamental à saúde de 52 milhões de colombianos foi colocado em risco", concluiu o comunicado.

Denis Silva, porta-voz da Pacientes Colômbia. Foto: Arquivo Privado
Acemi também alertou que o déficit já está impactando diretamente o atendimento aos colombianos: “Os pacientes não podem ser sacrificados. Por trás de cada número, há milhares de colombianos aguardando tratamento, medicação e atendimento oportuno. O déficit da UPC não é uma questão contábil; é uma tragédia humana que exige soluções imediatas”, disseram.
O sindicato insistiu que as demonstrações financeiras do EPS sejam auditadas e monitoradas pela Superintendência de Saúde e pela Controladoria-Geral da União, portanto, não há como questionar sua transparência. "Reconhecer e respaldar essas informações é fundamental para consolidar a confiança institucional e avançar em soluções conjuntas para a crise", enfatizaram.
Embora, segundo o sindicato, o Ministério da Saúde tenha encerrado as mesas técnicas e descartado qualquer financiamento adicional além das contribuições adicionais de trabalhadores e empregadores, a Acemi anunciou que pressionará os órgãos de supervisão e o próprio Tribunal Constitucional. "Continuaremos a defender a solvência do sistema e o mandato do Tribunal com números e evidências técnicas", afirmou o sindicato, solicitando o desenvolvimento de uma metodologia clara, com dados verificáveis e consenso político e jurídico para garantir a sustentabilidade do direito fundamental à saúde.
Jornalista de Meio Ambiente e Saúde
eltiempo