Sheinbaum recebe um ultimato para cumprir a resolução da ONU no caso do desaparecimento de Alexis Marín.


CIDADE DO MÉXICO (apro).- Familiares de Alexis Marín Ramírez, indígena da região Mixteca de Oaxaca que desapareceu há sete anos, exigiram que o governo de Claudia Sheinbaum cumpra a resolução do Comitê das Nações Unidas para Desaparecimentos Forçados (CED), emitida em 7 de maio.
Acompanhados por membros do Centro de Direitos Humanos e Assessoria aos Povos Indígenas (Cedhapi), organização que levou o caso ao CED, Rosa e Pedro Ramírez Barrios, mãe e tio de Alexis Marín, apresentaram a sentença em uma coletiva de imprensa, que tem um prazo de seis meses para ser cumprida pelas autoridades.
Esta é a segunda decisão proferida pela CED contra o Estado mexicano e a primeira relacionada a um caso em Oaxaca. Isso ocorre após o governo de Andrés Manuel López Obrador, em 2020, ter admitido a jurisdição deste órgão das Nações Unidas para tratar de casos individuais de desaparecimento forçado no México, cujo cumprimento é obrigatório, alertou o representante da CED, Maurilio Santiago.
Comovida com a decisão, Rosa Ramírez pediu às autoridades do estado de Oaxaca e ao governo federal que façam tudo o que estiver ao seu alcance para garantir que "meu filho volte para casa, vivo ou morto", conforme determina a CED em sua decisão.
“Faz sete anos e oito meses que não tenho notícias do meu filho. Peço ao governo que faça o seu trabalho, ao Ministério Público, às autoridades responsáveis por esse trabalho... É angústia, tristeza e dor não saber do meu filho. Não me deram nenhuma resposta, não investigaram o seu paradeiro. Só peço que ele volte para casa, seja como for que Deus o devolva para mim, com ou sem vida.”
"É a dor mais cruel que já me causaram. Arruinaram a minha vida. Tudo mudou num piscar de olhos desde o momento em que levaram meu filho. Espero que, agora que a sentença foi proferida, façam o seu trabalho. Quero meu filho de volta", gritou Rosa Ramírez, com a voz embargada.
A mãe do jovem de 20 anos, desaparecido em novembro de 2017, pediu às autoridades que ampliem a obrigação imposta pelo CED de buscar e localizar "todas as pessoas desaparecidas" que estão sendo procuradas por suas famílias.
Em 7 de novembro de 2017, Alexis Marín Ramírez desapareceu enquanto dirigia na rodovia que liga a comunidade de San Miguel Hernández à sede do município de Tlaxiaco, Oaxaca, próximo ao povoado de Palo de Letra.
Apesar de uma investigação sobre o desaparecimento de Alexis ter sido aberta, até agora não houve nenhum progresso, nem mesmo depois que o CED notificou o governo mexicano sobre sua decisão em maio, alerta Pedro Ramírez.
Na parceria que tínhamos com o governo mexicano, foi feita uma proposta de que os resultados seriam entregues em dois meses. Já se passaram quase dois meses e ainda não temos resultados. Está claro que o governo mexicano não está fazendo o seu trabalho, as autoridades não estão cumprindo suas funções como deveriam. O tempo continua passando e estamos cada vez mais distantes das evidências que podem levar ao paradeiro do meu sobrinho", disse Ramírez Barrios.
A decisão do CED ordena que o Estado mexicano "conduza uma investigação rápida, eficaz, completa, imparcial, independente e transparente sobre as circunstâncias do desaparecimento de Alexis Marín Ramírez, com o objetivo de estabelecer a verdade sobre seu desaparecimento forçado", mantendo sua família e representantes informados.
O órgão do tratado instruiu o Estado a "processar, julgar e punir os autores do desaparecimento forçado"; a "adotar todas as medidas apropriadas para buscar, localizar e libertar Alexis Marín Ramírez e, em caso de sua morte, localizar, respeitar e restaurar seus direitos, levando em consideração e respeitando os padrões culturais específicos dos autores como membros de comunidades indígenas".
Da mesma forma, a resolução 05/2021 do CED ordenou “reparação integral, incluindo indemnização rápida, justa e adequada”, bem como garantias de não repetição,
Como parte das medidas para evitar tal recorrência, o CED instou o México a implementar as recomendações feitas ao México após sua visita de 2021, como "estabelecer uma política nacional para prevenir e erradicar desaparecimentos forçados"; tudo relacionado ao "estabelecimento de uma estratégia global e abrangente de busca e investigação e uma abordagem diferenciada para procedimentos de busca e investigação", bem como "estabelecer um mecanismo de coordenação entre autoridades estaduais, locais e indígenas para a busca e investigação de desaparecimentos forçados na região".
A resolução determina que seu conteúdo seja publicado e disseminado "particularmente, mas não exclusivamente, entre os membros dos gabinetes do Ministério Público e do Ministério Público que investigam desaparecimentos" e exige que o governo mexicano apresente um relatório de conformidade no prazo de seis meses.
De acordo com o comunicado lido por familiares e defensores, 1.869 pessoas foram registradas em Oaxaca como vítimas de desaparecimentos forçados e desaparecimentos cometidos por indivíduos, entre 2023 e maio de 2025, sem registros de anos anteriores.
Segundo Maurilio Santiago, em Oaxaca, "há um grande número de pessoas desaparecidas que o governo nega existir. A Procuradoria-Geral do Estado de Oaxaca tem como política não divulgar o número real de pessoas desaparecidas. Às vezes, eles reduzem os números, mas apenas no papel, porque as estatísticas, na verdade, têm aumentado."
Após ressaltar que é muito importante para a família de Alexis Marín e para a Cedhapi (Comissão Nacional para a Prevenção da Repetição) que as garantias de não repetição sejam cumpridas, o defensor confidenciou que já houve reuniões com os Ministérios do Interior e das Relações Exteriores, nas quais foi proposto um pedido público de desculpas, a ser liderado pelo subsecretário de Direitos Humanos, Arturo Medina.
"Propusemos que o pedido público de desculpas seja feito em 30 de agosto, Dia Internacional dos Desaparecidos. Queremos que isso seja agilizado porque o desaparecimento forçado de pessoas não pode ser negado no México; é uma realidade que existe", afirmou Maurilio Santiago.
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