Reforma da previdência no limbo: O que acontecerá com a lei e os poupadores?


Reforma da previdência na Colômbia.
Imagem gerada com Inteligência Artificial - ChatGPT
A reforma da previdência promovida pelo Governo Nacional não entrará em vigor em 1º de julho, como previsto, depois que o Tribunal Constitucional, em decisão unânime adotada por sua Câmara Plenária, suspendeu a aplicação da Lei 2381 de 2024 após constatar vício processual em seu processo legislativo.
Em decisão divulgada nas últimas horas, o tribunal superior determinou que o projeto de lei seja devolvido à Câmara dos Representantes para corrigir o erro e repetir uma votação crucial, levantando dúvidas entre os cidadãos sobre o que acontecerá com as mudanças planejadas e os direitos adquiridos por milhares de colombianos.
Para ler: Conselho de Estado suspende decreto que convocava referendo
A decisão foi tomada por meio da Auto 841 de 2025, que determina à Câmara que reabra o quarto debate do projeto de lei e coloque em votação a proposta substitutiva apresentada em 14 de junho de 2024 pela Deputada María del Mar Pizarro e demais parlamentares. Conforme estabelecido, essa nova discussão deverá ter duração mínima de três horas e ocorrer no prazo máximo de 30 dias úteis, contados da notificação oficial.
Até que esse procedimento seja corrigido, a reforma permanecerá suspensa. No entanto, é importante ressaltar que isso só poderá ser feito durante as sessões ordinárias, portanto, teremos que aguardar até a próxima sessão legislativa, e o prazo para a entrada em vigor da lei permanece incerto.

Arquivo Portafolio.co
Isso porque a decisão, embora não anule a lei, congela todo o seu efeito regulatório, conforme explicam especialistas como Camilo Cuervo, advogado e sócio do escritório Holland & Knight, que acredita que o Congresso deve agir com maior rigor técnico, principalmente considerando que a presidência da Câmara mudará em 20 de julho e o governo perderá as maiorias que detinha no processo inicial.
" O Tribunal está dando um fôlego à reforma, mas deixa claro que o princípio democrático não pode ser violado. A votação foi em massa e sem debate, o que implica uma falha que agora precisa ser corrigida", disse o analista.
Mais informações: Sobretaxas, horários de trabalho e outras alterações para trabalhadores com aprovação da autoridade trabalhista
Do ponto de vista operacional, o sindicato Asofondos emitiu um comunicado sobre a suspensão, e seu presidente, Andrés Velasco, enfatizou que o Tribunal decidiu antes do prazo final de 1º de julho, evitando assim o que ele descreveu como "complicações operacionais e legais".
A Asofondos, que inclui as gestoras de fundos de pensão Colfondos, Porvenir, Protección e Skandia, reiterou que continuará participando da discussão de um sistema previdenciário que beneficie os trabalhadores colombianos e anunciou que permanecerá atenta à publicação oficial da sentença para estimar o tempo necessário para o novo processo.

É necessário verificar quantas semanas de contribuições você tem?
Colagem feita com iStock e Canva
"Embora toda a regra tenha sido suspensa, a decisão do Tribunal estabeleceu duas exceções: o artigo 12, que trata da seleção dos Administradores Individuais de Componentes de Poupança (ACCAI), e o artigo 76, que define a janela de oportunidade para transferências entre regimes", explicou Velasco.
Para esse grupo, isso significa que os ACCAIs continuam a existir legalmente, mesmo que não estejam mais operacionais; que as transferências feitas sob a janela permanecem em vigor; e que a janela permanece aberta, pelo menos até que o Tribunal decida o contrário em sua revisão final.
Veja também: Reforma trabalhista: vagas conquistadas com a contratação de aprendizes do SENA
Reviravolta inesperadaDo lado acadêmico, Julio Enrique Duarte, reitor da Faculdade de Economia e Administração da Universidade de San Buenaventura, destacou que a decisão representa uma "virada inesperada", mas não uma derrota total para o governo.
"A reforma não foi invalidada, mas sua entrada em vigor está suspensa até que a votação seja retomada. Isso dá mais tempo para negociar apoio e corrigir erros, sem comprometer o conteúdo da proposta", explicou.

Reforma da previdência sancionada.
Cortesia - Presidência / API
Em sua opinião, essa pausa abre uma nova janela de oportunidade para rever questões sensíveis como o regime transitório, os limites de contribuição e a idade de aposentadoria, que vêm gerando polêmica em diversos setores da opinião pública pelos efeitos que teria em sua implementação, caso entrasse em vigor.
Para os membros do sistema previdenciário, nada mudará no curto prazo, pois o sistema atual, que divide as contribuições entre o sistema público Colpensiones e fundos privados, permanece em vigor, e não haverá transferências automáticas nem alterações nos requisitos de aposentadoria, como idade ou semanas de contribuições.
Leia também: Sena divulga vagas de emprego na Alemanha e no Canadá: veja os perfis
No entanto, persiste a insegurança jurídica quanto aos efeitos que a reforma já vinha gerando em sua fase preparatória, principalmente em relação ao ACCAI (Serviços Contábeis e Administrativos).
Em resposta, Camilo Cuervo alerta que, caso a Câmara não cumpra os prazos ou conduza adequadamente o debate exigido pela Corte, as consequências serão graves, pois "o descumprimento poderá levar à declaração de inconstitucionalidade da lei. Nesse caso, a reforma será completamente derrotada".

A reforma da Previdência foi aprovada no plenário da Câmara dos Deputados.
Nestor Gomez/ Portfólio
Nesse sentido, ele também destacou que, diante do novo cenário político, em que o governo perde força na Câmara e se aproximam as eleições de 2026, os parlamentares poderiam atuar com mais cautela e estar abertos a ajustes fundamentais no texto legislativo, o que seria contraproducente às intenções da Casa de Nariño.
Outro efeito imediato da suspensão é financeiro, com especialistas indicando que o governo não receberá mais aproximadamente US$ 1,5 bilhão por mês, que esperava canalizar por meio da Colpensiones quando a reforma entrasse em vigor.
Outras notícias: Os efeitos da reforma trabalhista nas MPMEs acendem alarmes
Nesse sentido, a decisão também implica uma perda de margem de manobra fiscal para o Executivo, considerando que "na melhor das hipóteses, a reforma seria reativada em 2026, sob outra administração. Isso muda completamente o cenário político e desativa o uso da reforma como ferramenta de campanha", acrescentou Camilo Cuervo.
Do lado do governo, o Ministro do Trabalho, Antonio Sanguino, insistiu que a decisão do Tribunal deve ser vista como uma oportunidade para corrigir o processo e legitimar uma reforma histórica, e que "o que falta agora é que a Câmara conclua sua tramitação, seguindo a ordem do Tribunal Constitucional. O Presidente da República certamente convocará sessões extraordinárias para garantir que esse processo seja concluído o mais rápido possível".

Quais são os pilares?
iStock
Sanguino também reiterou que a intenção do Executivo é manter o texto aprovado no Senado, sem alterações substanciais, para que a implementação ocorra "o mais breve possível". Ele também enfatizou que a reforma busca garantir uma velhice digna e suprir as lacunas do sistema atual, onde mais de 70% dos idosos não recebem nenhuma aposentadoria.
Ainda assim, para muitos especialistas, o caminho da reforma se tornou incerto, visto que, com a mudança no equilíbrio político no Congresso, a reabertura do processo poderia levar a uma renegociação profunda do texto.
"Pode ser salvo, pode ruir ou pode ser completamente transformado. A única coisa clara hoje é que o Congresso precisa realizar o debate que não conseguiu realizar antes, e que os colombianos merecem uma reforma séria, técnica e sustentável", concluiu Julio Enrique Duarte.
Enquanto isso, os contribuintes devem continuar normalmente com o regime atual. A reforma ainda está em vigor, mas em um limbo.
Portafolio