O plano de Luis Caputo para conter a inflação preocupa o mercado: o dólar está perto de US$ 1.300 e os juros estão em 36%.

A equipe econômica do governo nacional teve uma semana difícil. A cotação oficial do dólar subiu para quase US$ 1.300, bem abaixo do piso da faixa cambial que o Executivo busca manter. Enquanto isso, a alta do peso — uma das principais ferramentas de Caputo para conter essa pressão — apresentou resultados limitados e levantou novas preocupações entre analistas e operadores.
Após o fim das Letras Financeiras (LEFI), usadas pelos bancos para absorver liquidez de curto prazo, o mercado ficou com US$ 10 trilhões em caixa. Isso impulsionou a demanda por dólares. Para evitar que essa pressão fosse repassada aos preços, o governo lançou novos instrumentos, como Lecaps e operações compromissadas, com taxas anuais de 36%. No entanto, o dólar subiu quase 7% em apenas duas semanas.
Não dê isso a eles. Obrigado pelo feedback. Já recebemos vários no mesmo sentido. Vamos conversar com os bancos. Se eles insistirem em não cumprir as regras, teremos que tomar medidas para que finalmente entendam. https://t.co/FbpIOAfRhr
-totocaputo (@LuisCaputoAR) 17 de julho de 2025
A GMA Capital afirma que a atual combinação de "taxas elevadas e um dólar intervencionado" sustenta apenas temporariamente o quadro macroeconômico. " Embora a suspensão dos controles cambiais tenha sido quase perfeita, a substituição de LEFIs por Lecaps foi muito mais desordenada e surpreendeu o mercado", alertaram.
Segundo o Grupo IEB, o desmantelamento das LEFIs teve um forte impacto na liquidez e gerou desequilíbrios. A estratégia do governo parece focada em um objetivo político: manter o processo deflacionário até as eleições. Para isso, assume custos elevados, como o aumento do custo do crédito. As taxas de juros para adiantamentos corporativos atingiram 38% de juros anuais (APR) e para empréstimos pessoais, 66%, o que tem impacto direto na atividade econômica.
Apesar da pressão cambial, o Banco Central mantém seu compromisso de não intervir no mercado oficial caso a taxa de câmbio não atinja o piso da banda. No entanto, o Tesouro, por outro lado, realizou compras fora do mercado de câmbio no valor aproximado de US$ 900 milhões, segundo dados da GMA.
Isso reforça o cumprimento das metas do FMI e garante moeda estrangeira para vencimentos futuros. Mas também gera incerteza: o novo patamar de US$ 1.260 será considerado um novo piso? Em termos de competitividade, a taxa de câmbio real melhorou 4% no mês, atingindo níveis semelhantes aos de 2017, o que pode beneficiar o saldo externo.
A consultoria LCG comemora a valorização da taxa de câmbio dentro do atual quadro de flexibilidade. Nos últimos 30 dias, o dólar se valorizou 8% em termos reais em relação a uma cesta de moedas e 16% desde o início do ano. Isso é fundamental, dado o déficit externo projetado para os próximos meses.
No entanto, existe a preocupação de que, enquanto o governo tenta conter a pressão cambial com intervenções indiretas e juros altos, o Tesouro continue a absorver a oferta de moeda estrangeira. Essa contradição aumenta a incerteza no cenário financeiro.
O risco-país, por sua vez, continua a aumentar e já se aproxima de 770 pontos-base. Isso limita a capacidade do governo de obter financiamento externo, mesmo após a elevação da classificação soberana concedida pela Moody's.
Federico Filippini , chefe de Pesquisa e Estratégia da Adcap Grupo Financiero, alerta que os investidores ainda estão receosos quanto à viabilidade política da implementação de reformas estruturais. Sem elas, o crescimento sustentado continua sendo uma promessa distante.
No entanto, ele observa que as recentes compras de reservas do Tesouro podem anunciar um cenário mais favorável caso o partido governista obtenha uma vitória retumbante em outubro. "Isso pode impulsionar a tão esperada queda do risco-país", concluiu.
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