César Guzmán: O homem que escolheu não se corromper

Conheci César Guzmán em 1995, quando ele patrulhava as ruas com um cachorro ao seu lado como parte do esquadrão canino da Polícia de Guadalajara, então chamado Grupo Lobos. Eu era um repórter novato, cobrindo crimes para a Notimex. Ele, um jovem policial, já sabia que seu negócio não era a força pela força, mas uma vocação clara: proteger sem se trair.
Aquele primeiro período, de 1995 a 2000, me ensinou mais do que uma redação poderia. Muitas vezes patrulhamos juntos; Ele estava armado, eu tinha um caderno e um gravador. Graças ao César, entendi como funciona o crime no México. Não dos boletins, mas das ruas. Do medo. Dos códigos invisíveis.
Naqueles anos, César chegou a comandante do grupo Lobos. Enquanto isso, continuei minha trajetória jornalística por outros estados. Nós nos encontramos novamente em 2007, em uma reunião no Consulado dos EUA. Nós dois fomos selecionados, em momentos diferentes, por programas de treinamento do governo dos EUA. Eu o vi e soube que ele não havia mudado: o mesmo olhar firme, a mesma ética incorruptível. Ele me disse que treinou nos Estados Unidos, em Israel, na Inglaterra. Isso ele aprendeu, sim, mas sem se vender. Porque neste país, para continuar subindo no serviço público, muitas vezes é preciso se sujar. E César não queria.
Ele saiu do sistema. Ele fundou sua agência de segurança privada. Ele criou sinergia com agentes estrangeiros, com especialistas, com outros que também acreditavam que isso poderia ser mudado. E de sua trincheira, ele continuou lutando. Não por dinheiro — que já não lhe faltava — mas por convicção. Porque César não queria que os “bandidos” vencessem. Ele disse isso se referindo aos criminosos com um desprezo silencioso, mas agudo.
Ele não bebeu uma gota de álcool. Não porque ele era puritano. Mas porque era assim que ele era: claro, focado, disciplinado. Foi coerente. Completo. Profissional.
E me irrita que eles o tenham covardemente assassinado. Neste país onde a vida vale pouco se você não faz parte do círculo vermelho ou da burocracia dourada. Eles o mataram sem lhe dar chance de se defender. Para um homem que vivia defendendo os outros.
César me ensinou a ler o jogo onde se enfrentam empresários, políticos, criminosos e agentes da justiça, cada vez mais parecidos entre si. Isso me fez sentir seguro em uma cidade onde ter uma arma ou poder é o suficiente para matar você impunemente.
Uma de suas citações ficou na minha cabeça: "Para que o mal triunfe, tudo o que é necessário é que os bons não façam nada."
Ele fez. E isso o torna eterno.
César não ficou parado.
Ele também não ficou famoso. Ele nem sequer procurou os holofotes.
Ele apenas trabalhou. Estudar. Ele contribuiu. Ensinado.
Ele ajudou quem pôde. E ele lutou.
Nós também tínhamos planos.
O crime não tirou apenas sua vida: ele interrompeu um projeto que construímos com inteligência artificial para prevenir riscos, informar as pessoas e transmitir mensagens claras de segurança por meio das mídias sociais.
Criamos um personagem com seu nome — GPT César Guzmán — uma extensão digital de sua experiência, projetada para comunicar, guiar e ensinar.
Lá estávamos nós: mais de 9.000 seguidores no Facebook, 14.000 no Instagram e o TikTok decolando. Mas a mensagem estava chegando.
E agora estou escrevendo isso. Porque o mataram.
Porque o crime — o tipo de crime que ele combateu a vida toda — o assassinou sem lhe dar a chance de se defender.
E ele não tirou apenas a própria vida.
Ele tirou nosso desejo. O exemplo dele. Seus planos. Seu jeito limpo de fazer as coisas.
Estou chateado. Porque pessoas boas não deveriam morrer assim.
Porque os bandidos não deveriam vencer tão facilmente.
Porque os bandidos não deveriam vencer tão facilmente.
Cesar foi consistente, honesto e profissional.
Ele era meu amigo.
E sinto mais falta dele do que imaginei ser possível.
Porque César queria que os mocinhos fizessem alguma coisa.
E eu, por ele, pelo que fizemos juntos, não pretendo ficar em silêncio.
Eleconomista