Jogamos 'Raidou Remastered': uma aventura policial e demoníaca

Parece que a galera da Atlus não sabe fazer nada errado, e poucas franquias no mundo dos videogames podem se gabar de uma história tão longa e respeitada quanto Shin Megami Tensei, a origem da famosa saga Persona, mas também de outras mais esquecidas, como Devil Summoner e Soul Hackers. No final de março, e para surpresa de muitos, a Atlus anunciou a remasterização de um clássico da era PS2 — com um daqueles nomes intermináveis tão típicos do mercado japonês —: Shin Megami Tensei: Devil Summoner – Raidou Kuzunoha vs. The Soulless Army, lançado em 2006. Demorou quase 20 anos, mas a Atlus finalmente conseguiu saldar sua dívida pendente com um dos spin-offs mais singulares e carismáticos da franquia.
É claro que a remasterização não é uma simples repaginada nostálgica. A Atlus realizou uma reformulação completa que transforma o clássico cult em uma oferta contemporânea, ágil e surpreendentemente ambiciosa. O que poderia ter sido uma remasterização técnica se torna, em muitos aspectos, um remake jogável com mudanças substanciais que melhoram tanto o ritmo quanto a experiência de jogo, apesar de ainda apresentar algumas falhas.
Resumindo, temos um sistema de batalha reformulado, gráficos em alta definição, dublagem completa para a história principal e recursos modernizados que aprimoram a experiência geral desta curiosa (e muito diabólica) história de detetive.
Os spin-offs de Megaten sempre se caracterizaram por sua ampla variedade de ambientes e estilos de jogo, e nesse sentido, Raidou é uma verdadeira surpresa, pois nos encontramos diante de um RPG de ação policial, uma combinação rara para esta franquia. O cenário se passa na era Taisho e, por vezes, lembra um anime shonen, com uma trama em que demônios que caçam humanos se espalham desenfreadamente, e um grupo seleto de caçadores precisa exterminá-los.
Entra em cena nosso protagonista, Raidou Kuzunoha XIV, que se junta a uma agência de detetives para explorar as ruas de Tóquio e solucionar alguns mistérios. Não vamos revelar muito da história, mas o jogo tem todas as características de um bom RPG e o selo de qualidade da Atlus, então não achamos que irá decepcionar ninguém.
O verdadeiro cerne do jogo é o gerenciamento dos demônios e a riqueza de personalidade que cada um deles possui. Quem conhece Pokémon descobrirá que os demônios aqui são incrivelmente desbocados, constantemente provocando ou desafiando sua bondade.
E nesta edição em particular, você usa seus lacaios constantemente como parte de suas investigações, o que é um verdadeiro deleite. Seja lendo mentes, alcançando terrenos altos ou se infiltrando em lugares que Raidou não conseguiu, eles são uma extensão do protagonista, tanto dentro quanto fora de combate, e trocá-los (e mesclá-los) é um verdadeiro prazer.

E por falar em combate, fica claro desde o primeiro encontro que este não será um jogo fácil. A dificuldade é alta, e tivemos que repetir várias lutas contra chefes até dominarmos a mecânica, algo muito alinhado com a filosofia clássica de "Shin Megami Tensei". No entanto, esta nova versão inclui uma ampla gama de modos de dificuldade — incluindo um em que é impossível morrer — permitindo que qualquer jogador se concentre na história se preferir uma experiência mais relaxante, embora esteja claro que não foi projetada para isso.
O jogo apresenta um sistema de combate em tempo real baseado no uso combinado de espada e pistola, mas com uma profundidade incomum para este tipo de RPG. Raidou pode executar combos leves e pesados com sua katana, bloquear ataques inimigos e esquivar com movimentos rápidos. Ele também possui habilidades especiais que consomem magia, mas lhe permitem desencadear poderosas técnicas elementais, como chamas ou choques elétricos. Soma-se a isso o uso de um revólver, perfeito para manter distância e enfraquecer oponentes à distância.

O combate funciona, mas sentimos falta de mais mecânicas além daquelas mostradas nas primeiras horas de jogo. Além disso, a câmera e o foco no inimigo nos pregaram peças, porque, por mais que o exterior tenha mudado, o núcleo ainda é um jogo de PS2, e isso fica evidente aqui. Se somarmos a isso a dificuldade (que corresponde ao "normal" e você pode ser facilmente morto com dois golpes), esses detalhes podem frustrar muitos. E cuidado, "Raidou Remastered" é basicamente um remake completo; e um bom jogo no geral. As vibrações que recebo são muito positivas. No entanto, este ainda é um jogo de 2006 lutando contra sua própria natureza para se equiparar aos padrões atuais.
Por exemplo, a interface, assim como a navegação pela cidade e os menus, é um tanto desajeitada e, apesar da reformulação gráfica (jogamos no Switch 2, onde roda a sólidos 1080p e 60 fps), ainda são remendos para um jogo um tanto datado para alguns. Também não ficamos muito animados com o fato de a câmera permanecer fixa ao explorar a cidade e mudar constantemente de plano (como muitos outros jogos da época faziam), o que parece um pouco arcaico nesse sentido.
Se você gosta de desafios e quer experimentar um dos spin-offs mais singulares do universo Megaten, recomendamos ficar de olho neste título. Você precisa aceitar suas desvantagens para aproveitar todos os seus benefícios. O jogo é divertido, desafiador e a história é cativante. Se você ignorar os aspectos técnicos, que, apesar de aprimorados, ainda deixam a desejar, "Raidou Remastered" proporcionará muita diversão em suas 30 horas (ou mais de 50 se você aproveitar todo o conteúdo secundário).
ABC.es