'Lost Soul Aside': O RPG chinês que levou 11 anos para chegar e que recompensa a espera com ação emocionante.

O RPG de ação criado por Yang Bing e seu estúdio Ultizero Games é, acima de tudo, uma jornada de perseverança transformada em um produto real que mistura a estética de Final Fantasy com a intensidade de Devil May Cry.
Já se passaram onze anos desde que um jovem desenvolvedor chinês chamado Yang Bing chocou o mundo com um trailer caseiro que parecia ter vindo de um estúdio AAA.
Era 2016, e os fóruns de videogame falavam sobre um título impossível: Lost Soul Aside, um RPG de ação criado por uma única pessoa, inspirado em Final Fantasy XV e com combate que lembrava Devil May Cry.

Lost Soul Aside é um RPG de ação e aventura. Foto: Steam
A história desse protótipo viralizou, e a Sony percebeu e o incluiu no programa China Hero Project. A partir daí, a odisseia do criador se tornou a odisseia de um estúdio inteiro, a Ultizero Games, que enfrentou atrasos, reinicializações e até mesmo a pandemia, mas nunca desistiu do sonho.
Hoje, esse sonho finalmente está disponível para PlayStation 5 e PC. E a primeira coisa a dizer é que é viciante. Em um mercado onde a capacidade de concentração do jogador dura segundos, Lost Soul Aside começa com uma abordagem arriscada, mas eficaz: mostrar a batalha final imediatamente, quando liberamos todo o nosso poder.
É um vislumbre do que o jogo promete, um lembrete de onde vamos parar e um recurso narrativo que transforma a progressão em uma jornada motivadora. Após esse início frenético, a história retrocede e nos coloca na pele de Kaser, um jovem marcado pela tragédia que precisa crescer, se fortalecer e, ao longo do caminho, salvar sua irmã e enfrentar uma ameaça interdimensional devoradora de almas.

O jogador assume o papel de Kaser. Foto: Steam
A narrativa não revoluciona o gênero, mas funciona. Combina a história épica de reinos em guerra com um toque de ficção científica que lhe confere uma identidade única: criaturas alienígenas chamadas Voidrax, dimensões paralelas, dragões que se fundem com o protagonista. Tudo contado com um tom sério, às vezes solene, que busca dar peso à jornada do herói. E embora algumas passagens pareçam genéricas, o vínculo emocional com a irmã e o relacionamento com Arena, a companheira dragão, mantêm o jogador conectado à trama.
Onde Lost Soul Aside realmente brilha é no combate. O legado dos grandes jogos de hack-and-slash japoneses é evidente. Velocidade, fluidez e a capacidade de encadear combos estilizados são a essência da experiência. Kaser pode alternar entre espada, espada de duas mãos, lança e foice no meio da luta, cada uma com um estilo distinto, e essa mecânica de troca de armas instantânea abre possibilidades espetaculares. Somam-se a isso os poderes da Arena, que fornecem explosões de energia, transformações e recursos táticos.
O resultado é um combate expressivo: jogadores experientes podem se exibir com cadeias complexas, mas até mesmo jogadores menos habilidosos encontram maneiras de se sentir poderosos.
Visualmente, o jogo supera as expectativas para uma estreia de um estúdio pequeno. Os ambientes são variados e expansivos, com um nível de detalhes surpreendente em alguns pontos.
As animações de combate são fluidas e espetaculares, com efeitos de partículas que preenchem a tela. Os personagens, embora claramente inspirados em animes e Final Fantasy, possuem um carisma próprio. Louisa, a irmã, transmite a motivação central da protagonista; Arena, a companheira dragão, traz personalidade e presença a cada cena. Esses toques ajudam a criar uma conexão que títulos semelhantes nem sempre conseguem alcançar.
Nem tudo é perfeito. Na época do lançamento, alguns jogadores relataram problemas de desempenho, especialmente no PC: quedas de quadros e cinemáticas travadas. A narrativa, apesar dos esforços, cai em clichês e nem sempre é bem apresentada.
E fica claro que, embora tenha uma ótima aparência, não tem o orçamento enorme dos grandes estúdios japoneses. Mas, no final, tudo isso é ofuscado pela sensação de jogar algo autêntico, com identidade própria e uma alma que pode ser sentida em cada luta.
Minhas impressões são claras: Lost Soul Aside é um jogo divertido desde o primeiro momento. Ele tem aquele gancho inicial que poucos títulos conseguem e, a partir daí, te leva pela mão em uma jornada de crescimento que é agradável por sua jogabilidade, seu ritmo e sua construção de mundo. Graficamente, é atraente, o combate é seu ponto forte e, apesar de seus altos e baixos, é uma experiência altamente recomendada para quem gosta de ação estilizada. Mais do que um videogame, é a prova de que um sonho pessoal, com perseverança e apoio, pode se tornar uma realidade desfrutada por milhares de jogadores hoje.
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